A Pessoa e Obra do Espírito Santo (302)

2) Positivamente considerando (Continuação)

13) Amigo do Bem: (fila/gaqoj) *Tt 1.8. Amigo do que é bom. Denota devoção a tudo que é moralmente bom no sentido de resultado da sua atividade; excelente. Neste sentido, o presbítero deve ser amigo daquilo cuja “beleza” pode não ser a prioridade; no entanto, é algo essencialmente bom para a Igreja. Na administração da Igreja nem sempre tomamos atitudes que sejam consideradas esteticamente “belas”, que soem como populares.

No entanto, devemos agir procurando o que é essencialmente bom. O “bom” nem sempre é imediatamente agradável, mas é o melhor. A educação e a disciplina não têm, num primeiro momento, como ingrediente fundamental a satisfação de quem passa por esses processos, no entanto, o fruto disso é o bem individual e o da Igreja de Cristo (Hb 12.4-13).

 Façamos uma pequena digressão. Paulo, escrevendo aos romanos, diz que a vontade de Deus é “boa”(Rm 12.2).

Falar que a vontade de Deus é boa pode sugerir-nos uma série de conceitos diferentes e até equivocados. O que Paulo quer dizer quando declara que a vontade de Deus é boa?

A ideia de “bem” pode estar circunscrita a uma série de circunstâncias que nos fazem avaliar o seu significado de forma diferente. Por exemplo, quando digo que uma faca é boa para cortar carne e, ao mesmo tempo, falo para o meu filho pequeno não mexer nela porque ela é perigosa. Neste caso, usei o mesmo objeto, todavia, fiz declarações antagônicas, porque o classifiquei dentro de referenciais diferentes: a faca é boa para cortar carne, todavia, por ser afiada (justamente o que a torna boa para aquele propósito), traz perigo para uma criança manuseá-la. Isto significa que o que torna alguma coisa boa para determinada tarefa, pode ser justamente o que a desqualifica para outra.

Há também a questão do bem individual e do bem coletivo. Quantas vezes estamos dispostos a julgar “bom” aquilo que é melhor para a coletividade e não para nós, especificamente? Há também caminhos que seguimos que nos parecem ser os melhores, contudo, depois descobrimos que eles tinham apenas uma aparência “boa” mas que, de fato, não eram; as próprias circunstâncias nas quais estávamos metidos facultou um tipo de ilusão, uma deficiência na interpretação do fenômeno. Agora, depois de muitas dificuldades, podemos então perceber o nosso erro e nos arrepender do rumo que tomamos.

Sendo assim, o que Paulo estaria dizendo, então?

A palavra usada por ele para descrever a vontade de Deus, denota o que é moral e praticamente bom. A vontade de Deus é boa, excelente (a)gaqo/j) porque Ele é bom (Lc 18.19). Deus é bom essencialmente; a sua vontade também o é. Por Deus ser bom é que Ele se comunica com todas as suas criaturas de modo terno, generoso e benevolente.

A vontade de Deus é boa em si mesma, não estando dependente de épocas ou circunstâncias. Ela é proveniente de um Deus eterno e absolutamente bom.

O que muitas vezes ocorre conosco é que queremos “ensinar” a Deus o nosso “bem” momentâneo: assim, neste afã, a igreja ora para que certo político seja eleito, sugere determinadas soluções para Deus nos dirigir em nossa vida pessoal, encaminha alguns procedimentos, solicitando o aval de Deus, etc. Temos, quando muito, uma visão momentânea de “bem” e, mesmo assim, bastante ofuscada pelos nossos pecados e contingências – interesses, predileções, falta de discernimento, entre outras coisas –; no entanto, ainda assim, queremos que Deus faça a nossa vontade. A resposta de Deus sempre é boa e, ela é justamente o que desejaríamos, se tivéssemos um perfeito discernimento espiritual.[1]

Quando oramos: “seja feita a Tua vontade”, estamos de fato, confiando na vontade bondosa de Deus, sabendo que ela não é boa apenas naquele momento, naquelas circunstâncias, ou para os nossos interesses egoístas; mas é boa em sua própria natureza, sendo harmônica com o ser de Deus, que é bom, santo, justo, amoroso, fiel.

Moisés, consciente disso, diz ao povo: “O Senhor nos ordenou cumpríssemos todos estes estatutos, e temêssemos o Senhor nosso Deus, para o nosso perpétuo bem, para nos guardar em vida, como tem feito até hoje” (Dt 6.24).

Portanto, os presbíteros devem ser amantes do que é bom. A vontade de Deus que é boa em si mesma deve ser a sua paixão em todas as suas decisões.

Maringá, 19 de setembro de 2021.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1] Cf. Charles Hodge, Teologia Sistemática, São Paulo: Editora Hagnos, 2001, p. 1540.

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