A Pessoa e Obra do Espírito Santo (292)

2) Positivamente considerando (Continuação)

4) Temperante: (nhfa/lioj) 1Tm 3.2. “Sóbrio”, “de mente limpa”, “equilibrado”. A palavra indicava na sua origem alguém que se abstinha do álcool ou que era temperante no uso do vinho. No entanto, aqui parece indicar um sentido mais genérico. (*1Tm 3.2,11; Tt 2.2). Analisando a palavra nh/fw,[1] (sóbrio), de onde provém nhfa/lioj, podemos ampliar a nossa compreensão bíblica.

          O presbítero deve ter uma temperança espiritual que o permita avaliar todas as coisas sem se deixar influenciar simplesmente pela beleza ou agradabilidade do que foi dito. Não deve estar pronto a abraçar novidades pelo simples fato de ser aparentemente nova, antes deve ter cautela para avaliar todas as coisas. Não deve se intoxicar praticando uma glutonaria espiritual sem saber digerir o que está sendo-lhe transmitido.

Deste modo, deve estar desperto, vigilante, para não ser iludido com todo e qualquer ensinamento, tendo o seu entendimento “cingido” com a Palavra e com a “couraça da fé”, permanecendo vigilante contra as artimanhas de satanás que tenta induzir a igreja ao erro.

          5) Sóbrio: (sw/frwn) 1Tm 3.2; Tt 1.8. “Autocontrolado”, “moderado”, “judicioso”, “sensato”, “prudente”, “solícito”. (*Tt 2.2,5). Esta era uma das virtudes cardinais para a filosofia grega desde o 6º século a.C.[2] Ela se contrapunha à ignorância e à frivolidade.[3] Em Platão (427-347 a.C.) temos uma caracterização curiosa: “A palavra temperança [swfrosu/nh] é a salvadora [swthri/a] da sabedoria [fro/nhsij]”.[4] Em outro lugar, identificando esta virtude como sendo divina, diz: “Aquele que é temperante será caro ao deus, já que é semelhante a ele”.[5]

          No entanto, o que nos interessa de fato, é o que nos ensinam as Escrituras. O presbítero não deve ser dado à frivolidade intelectual e moral, antes deve ser prudente e sensato em sua forma de pensar e agir. É interessante observar que nas vezes que Paulo emprega esta palavra, sempre a associa a pessoas maduras. “O homem de mente débil e infantil, apesar da sua fervorosa piedade, não se ajusta jamais à posição de governante, conselheiro e guia eclesiástico”, escreve Miller (1769-1850).[6]

          Como tratar de questões tão difíceis na Igreja sem o bom senso necessário? Como confiar nas decisões, orientações e governo de uma pessoa insensata e infantil que age ao sabor de suas inclinações impensadas?

          6) Modesto: (ko/smioj) 1Tm 3.2. “Ordeiro”, “respeitável”, “honroso” Aquele que, como um reflexo do que é interiormente – tendo uma mente bem-organizada, não disparatada –, tem hábitos ordeiros, cumpre ordeira, simples e honestamente as suas obrigações. (ARC.; ACR.: “honesto”). (*1Tm 2.9 “ataviar”). O presbítero não pode ser desorganizado em sua vida pessoal. Aquele, cuja vida profissional, familiar, econômica e social é caótica, como poderá contribuir com a boa ordem da igreja? A boa ordem é educativa e preventiva em qualquer grupo social.

          Acrescentaria: aquele que cumpre as suas funções sem maiores preocupações atávicas; faz com honestidade e discrição. Quando o presbítero cumpre ordeiramente as suas atribuições, em geral, ele não aparece desnecessariamente, não chama atenção para si; as coisas funcionam bem, dentro dos conformes: há ordem e modéstia.

          7) Hospitaleiro: (filo/cenoj) *1Tm 3.2; Tt 1.8; 1Pe 4.9). A palavra quer dizer “amigo do estrangeiro” (fi/loj & ce/noj). A hospitalidade fazia parte do ensino de Jesus (Lc 10.34-35; 11.5-8) e, os discípulos em sua missão deveriam contar, ainda que não essencialmente, com a hospitalidade das cidades e aldeias que visitariam (Mt 10.11; Lc 10.5-9).[7]

          O próprio Jesus usufruía da hospitalidade (Mc 1.29; 2.15). Vemos que os missionários dependeram inúmeras vezes da acolhida de irmãos fiéis, sendo inclusive Gaio elogiado por João por tal prática (At 10.6, 23; 16.15; 28.7; Rm 16.23/3Jo 1,5; Fm 22). A prática da hospitalidade é recomendada a toda Igreja, considerando, inclusive, as perseguições (Rm 12.13; 1Tm 5.10; Hb 13.2; 1Pe 4.9).

          Creio que podemos dar um sentido mais amplo à palavra. Deixe-me contar uma experiência: Em certa ocasião, após o culto em uma igreja de outra denominação – já fazia uns 6 meses que havia pregado ali –, uma senhora aproximou-se de mim e agradeceu a exposição bíblica que fizera; sorri e lhe disse: “ore por mim”, ao que ela me abraçou e disse mais ou menos o seguinte: “tenho feito isso desde a outra vez que o senhor me pediu”. Esta senhora me hospedou em seu coração. A hospitalidade começa pela recepção das pessoas em nossos corações. O presbítero deve estar disposto a abrir a sua casa para o estrangeiro, mas, necessita também ter um grande coração para abrigar em sua atenção e oração todos os membros da Igreja.

Maringá, 14 de setembro de 2021.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1] Nh/fw: *1Ts 5.6,8; 2Tm 4.5; 1Pe 1.13; 4.7; 5.8.

[2]  Cf. U. Luck, Sw/frw: In: G. Kittel; G. Friedrich, eds. Theological Dictionary of the New Testament, v. 7, p. 1099.

[3] Cf. S. Wibbing, Domínio Próprio: In: Colin Brown, ed. ger. O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento,v. 1, p. 684.

[4] Platão, Crátilo, 441e: In: Platão, Teeteto-Crátilo,Belém: Universidade Federal do Pará, 1988, p. 139.

[5]  Platão, As Leis,Bauru, SP.: EDIPRO., 1999, IV.716d. p. 190.

[6]  Samuel Miller, O Presbítero Regente: Natureza, Deveres e Qualificações, São Paulo: Os Puritanos, 2001, p. 41.

[7]Excelentes as observações de Hendriksen. Veja-se: William Hendriksen, 1 Timóteo, 2 Timóteo e Tito, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2001, p. 156-157.

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