A Pessoa e Obra do Espírito Santo (290)

1) Negativamente considerando (Continuação)

7) Não cobiçoso de torpe ganância: (mh\ ai)sxrokerdh/j) Tt 1.7/1Pe 5.2.[1] (*1Tm 3.8). “Cobiçoso de lucro vergonhoso”; isto é, alguém que lucra desonestamente, adaptando, modificando o ensinamento aos interesses de seus ouvintes a fim de ganhar dinheiro deles. Também pode se referir ao envolvimento em negócios escusos. A torpe ganância é uma decorrência natural da avareza. O lucro em si não é pecaminoso; contudo, ele pode se tornar vergonhoso se a sua obtenção passar a ser o nosso objetivo primário, em detrimento da glória de Deus.

          Pedro contrapõe este sentimento à boa vontade, que denota um zelo e entusiasmo devotado: “Pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós, não por constrangimento, mas espontaneamente, como Deus quer; nem por sórdida ganância, mas de boa vontade (* proqu/mwj)(1Pe 5.2).

          8) Não ser neófito: (ne/ofutoj) *1Tm 3.6. O sentido literal é de “recém-plantado” (Jó 14.9; Sl 128.3; 144.12; Is 5.7). A palavra era usada para as árvores recém-plantadas. No Novo Testamento tem o sentido figurado de “novo plantado na Igreja de Cristo”, “novo convertido”, “neófito”. A ideia nos parece a mesma de 1Tm 3.10, quando fala que o diácono deve ser “primeiramente experimentado”. É preciso maturidade para não se deixar levar pelo orgulho que é próprio de Satanás. É necessário que o presbítero antes de ser eleito, tenha demonstrado ao longo dos anos a sua firmeza e temperança. Não devemos nos precipitar no processo.

          A instrução de Paulo tem uma advertência específica quanto à eleição: “Não seja neófito, para não suceder que se ensoberbeça (tufo/w)[2] e incorra na condenação (kri/ma) do diabo” (1Tm 3.6). A palavra significa “cheio  ou envolvo em fumaça”. Ela é usada figuradamente, indicando, por exemplo, uma névoa que nos impede de enxergar e discernir a realidade. Paulo orienta, então, que o candidato ao presbiterato não deve ser jovem na fé a fim de não correr o risco de cair na armadilha, tão propensa à liderança imatura espiritualmente, de formar um autoconceito arrogante e pretencioso, incorrendo assim nos mesmos pecados de satanás e dos falsos mestres, sendo condenados por Deus. (Rm 16.20; 1Tm 6.9; 2Tm 2.26; Tg 4.7; 2Pe 2.3-4; Jd 4,6).

          Por vezes, confundimos as esferas. Quando uma pessoa de grande relevância, social, intelectual ou econômica se converte, tendemos a olhar os seus talentos de forma superlativa, como se fosse amadurecido na fé. Por vezes, queremos logo lhe atribuir cargos e funções que envolvem ensino. De repente, alguém que mal saiu da classe catecúmenos (ou discipulado), já está no quadro de professos da Escola Dominical e, conforme for, daqui a pouco, considerando a sua cultura e facilidade de se comunicar, pregará, ocupando o púlpito da igreja. Meus irmãos, sucesso profissional e social não significa, necessariamente, maturidade espiritual. Essas pessoas, que poderão se tornar em abençoadíssimos instrumentos na edificação da igreja, precisam sentar e aprender ainda que com pessoas muito mais modestas intelectualmente, no entanto, com conhecimento e prática bíblica.

          Um homem que poderia vir a ser um excelente presbítero pode ser grandemente prejudicado e com ele a igreja, devido à precipitação. A nossa pressa pode se constituir num impedimento para o seu amadurecimento. De repente este homem tão promissor em sua fé, dedicação e entusiasmo, foi colocado numa situação que terá de tratar de graves problemas para os quais a sua alma não está preparada. Daí tantas desilusões, afastamentos da igreja e frustrações. Atendamos à instrução inspirada do apóstolo: não tenhamos excessiva pressa.

Maringá, 13 de setembro de 2021.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1]  A palavra usada por Pedro, só ocorre aqui: ai)sxrokerdw=j, que significa “lucro vergonhoso”, “ambiciosamente”. Ela é da mesma raiz de ai)sxrokerdh/j

[2] *1Tm 3.6; 6.4; 2Tm 3.4.

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