A Pessoa e Obra do Espírito Santo (284)

          6.4.7.3.2. O ofício de Presbítero  (Continuação)

A eleição de presbíteros

Devido à gravidade desse ofício, como é natural, o presbítero é eleito[1] pela igreja, entre os crentes e com profundo senso de reverência. Não pode haver precipitação. Devemos ter cautela quanto a possíveis irmãos que se insinuam pela entonação, influência ou excessiva vontade de serem vistos. A Igreja, certamente instruída por Paulo,  tinha uma compreensão relativamente clara da responsabilidade dos oficiais eleitos.

          Humanamente falando, essa eleição poderia ser uma temeridade considerando a incipiência da igreja. Por tudo isso, não queria errar, sendo guiada por predileções, aparência e suposta eloquência. Sem dúvida, todos  esses critérios carnais são fruto de um ateísmo funcional.  Portanto, buscam a direção do Senhor da Igreja nesse processo tão relevante.

          O livro de Atos registra que na Galácia, como vimos, Paulo, após fortalecer e consolar os irmãos perseguidos, promoveu-lhes “em cada igreja a eleição de presbíteros, depois de orar com jejuns, os encomendaram ao Senhor em quem haviam criado” (At 14.23).[2]

          Como vimos, os presbíteros dirigiam a igreja junto com os apóstolos (At 15.2,4,6,22,23; 16.4),[3] sendo inclusive as suas sugestões acatadas, como foi o caso particular de Paulo (At 21.18-26); competindo também a eles “alimentar” (poimai/nw = pastorear, cuidar, apascentar)[4] o rebanho (At 20.28).

          Conforme mencionamos, presbítero e bispo descrevem o mesmo ofício nas páginas do Novo Testamento (At 20.17,28; Tt 1.5-7; 1Pe 5.1-3).[5]

          Talvez possamos tomar a seguinte distinção quanto ao emprego das expressões:

          a) Bispo chama a atenção para o seu ofício e função. Possivelmente um termo mais familiar entre as comunidades de origem gentílicas.

          b) Presbítero, destaca a sua dignidade.[6]  Possivelmente a palavra mais usual nas comunidades constituídas acentuadamente por judeus, ainda que os usos não fossem exclusivos.

Maringá, 05 de setembro de 2021.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1]A eleição aqui descrita, parece ter sido feita pelo levantar-se das mãos (Xeirotone/w = xei/r = “mão” & tei/nw = “estender”), ainda que não necessariamente (* At 14.23; 2Co 8.19). Aliás, este costume não era estranho na Antiguidade. (Veja-se: Platão, As Leis,Bauru, SP.: EDIPRO., 1999, VI, 755e; 756a, p. 235). A votação era normalmente feita pelo ato de levantar as mãos. Em Atenas, por aclamação, ou por folhas de votantes ou pedras. Em caso de desterro, o voto era secreto. (Veja-se o enriquecedor artigo de Sir Ernest Barker, Eleições no Mundo Antigo: In: Diógenes(Antologia), Brasília, DF.: Editora Universidade de Brasília, 1982, n° 2, p. 27-36).

            A expressão usada por Paulo (Tt 1.5), recomendando a Tito que em cada cidade constituísse presbíteros, não indica o modo de escolha mas sim a necessidade de, seguindo a prática da Igreja, “constituir” homens para este ofício. O termo usado por Paulo (kaqi/sthmi) ocorre algumas vezes no NT. com os seguintes sentidos: Mt 24:45,47; Lc 12:42,44 (confiar); Mt 25:21, 23/At 17.15 (colocar sobre, no sentido de responsabilidade); At 6:3 (encarregar); Rm 5.19 (2 vezes) (tornar-se, no sentido de ser constituído); Lc 12:14; At 7.10,27,35; Tt 1.5; Hb 5.1; Hb 5.1; 7.28; 8.3; Tg 4.4 (constituir); Tg 3.6 (situada, com o sentido de constituída); 2Pe 1.8. Vejam-se também: William F. Arndt; F. WilburGingrich A Greek-English Lexicon of the New Testament, Chicago: The University of Chicago Press, 1957, p. 889; E. Lohse, xeirotone/w: In: G. Kittel; G. Friedrich, eds. Theological Dictionary of the New Testament, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1982 (Reprinted), v. 9, p. 437; Horst Balz; G. Schneider, eds. Exegetical Dictionary of the New Testament, Grand Rapids, MI.: Eerdmans, 1999 (Reprinted), v. 3, p. 465; Simon J. Kistemaker, Comentário do Novo Testamento: Atos, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, v. 2, (At 14.23-24), p. 43-46; R.C.H. Lenski, The Interpretation of the Acts of the Apostles, Peabody, Massachusetts: Hendrickson Publishers, (Commentary on the New Testament), 1998, (At 14.23), p. 585-588;  Marvin R. Vincent,  Word Studies in the New Testament,  Peabody, MA.: Hendrickson Publishers, [s.d.], v. 1, (At 10.41), p. 503. Quanto à disputa entre presbiterianos e episcopais concernente à interpretação do texto, veja-se o presbiteriano: J.A. Alexander, A Commentary on The Acts of the Apostles, Edinburgh: The Banner of Truth Trust, © 1857, 1991 (Reprinted), v. 2, (At 14.23), p. 65-66. Calvino tem uma palavra equilibrada sobre a “eleição” dos presbíteros: “Daí, ao ordenar pastores, o povo tinha uma eleição soberana; mas, no caso de haver alguma desordem, Paulo e Barnabé presidem como moderadores. Esta é a maneira como devemos entender a decisão do Concílio de Laodicéia, que proíbe que a eleição seja entregue ao povo comum” (John Calvin, Commentary upon the Acts of the Apostles,Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, (Calvin’s Commentaries), 1996 (Reprinted), v. 19, (At 14.23), p. 28).

[2]Calvino (1509-1564) comenta: “Daqui, os jejuns e orações de que Lucas faz menção, e que os fiéis fizeram uso quando criavam presbíteros [At 14.23]. Ora, como compreendessem que estavam fazendo coisa da maior seriedade, nada ousavam tentar sem extrema reverência e solicitude. Mais do que tudo, porém, se aplicaram às orações, nas quais a Deus rogavam o Espírito de conselho e discernimento” (João Calvino, As Institutas, (2006), IV.3.12).

[3] “Em Atos 15 e 16.4 os apóstolos e presbíteros funcionam claramente como suprema instância judiciária e instância doutrinal normativa para toda a Igreja, e como tais tomam uma decisão a respeito das exigências mínimas da Lei que devem ser impostas aos gentios” (Guenter Bornkamm, Presbítero: In: G. Kittel, ed. A Igreja do Novo Testamento, São Paulo: ASTE, 1965, p. 237).

[4] * Mt 2.6; Lc 17.7; Jo 21.16; At 20.28; 1Co 9.7; 1Pe 5.2; Jd 12; Ap 2.27; 7.17; 12.5; 19.15.

[5] “Tenhamos em mente, portanto, que esta palavra [bispo] significa o mesmo que ministro, pastor ou presbítero” (João Calvino, As Pastorais, São Paulo: Paracletos, 1998, (1Tm 3.1), p. 83). Vejam-se também: Francis Turretin,Institutes of Elenctic Theology,Phillipsburg, New Jersey: P & R Publishing, 1997, v. 3, p. 201ss (apresenta ampla comprovação histórica); Louis Berkhof, Teologia Sistemática,Campinas, SP.: Luz para o Caminho, 1990, p. 590; Morton Smith, Systematic Theology,Greenville: Greenville Seminary Press, 1994, v. 2, p. 572; R.C.H. Lenski, Commentary on the New Testament, Peabody, Mass.: Hendrickson Publishers, 1998, v. 9, (1Tm 3.1), p. 577; James Bannerman, A Igreja de Cristo – Um tratado sobre a natureza, poderes, ordenanças, disciplina e governo da Igreja Cristã, Recife, PE.: Editora os Puritanos, 2014, p. 730-732; Cornelis Van Dam,  O Presbítero, São Paulo: Cultura Cristã, 2019, p. 39-40.

[6] Cf. François Turretini, Compêndio de Teologia Apologética, São Paulo: Cultura Cristã, 2011, v. 3, p. 250-251.

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