A Pessoa e Obra do Espírito Santo (283)

          1.4.2. Na incipiente igreja

      A palavra aparece 66 vezes no Novo Testamento. A primeira vez que ocorre referindo-se à igreja é em At 11.30,[1] indicando a liderança destes irmãos que receberiam os donativos das mãos de Barnabé e de Saulo, enviados pelos discípulos que estavam em Antioquia.

      Os presbíteros participam ativamente da esfera administrativa juntamente com os apóstolos, como no caso das importantes decisões conciliares de Jerusalém (At 15.2,4,22,23; 16.4).

      Paulo não podendo se dirigir à Éfeso, dá as últimas orientações aos presbíteros em Mileto (At 20.17), demonstrando a grande responsabilidade destes pelo cuidado da Igreja:

28 Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a igreja de Deus, a qual ele comprou com o seu próprio sangue. 29 Eu sei que, depois da minha partida, entre vós penetrarão lobos vorazes, que não pouparão o rebanho. 30 E que, dentre vós mesmos, se levantarão homens falando coisas pervertidas para arrastar os discípulos atrás deles. 31 Portanto, vigiai, lembrando-vos de que, por três anos, noite e dia, não cessei de admoestar, com lágrimas, a cada um. 32 Agora, pois, encomendo-vos ao Senhor e à palavra da sua graça, que tem poder para vos edificar e dar herança entre todos os que são santificado. (At 20.28-32).

      Indicando a liderança e representatividade dos presbíteros, em Jerusalém eles se reúnem com Tiago, Paulo e Lucas: “No dia seguinte, Paulo foi conosco encontrar-se com Tiago, e todos os presbíteros se reuniram” (At 21.18).

                                                                                                  6.4.7.3.2. O ofício de Presbítero

                                                                                                                                                   Não sabemos precisar quando surgiu o ofício de Presbítero. Contudo, a igreja como Israel de Deus, não seria estranho manter, com as devidas adaptações, o seu antigo ofício de ancião.[2]

          Bavinck (1854-1921) acentua:

Quando nós nos lembramos de que entre os judeus o governo do ancião, seja na vida cívica ou nas sinagogas, era uma prática comum, não devemos nos surpreender com o fato de que dentre os outros membros da igreja alguns tenham sido escolhidos para assumir a responsabilidade pela supervisão e disciplina.[3]

          No texto de At 11.30 temos registrada a sua existência nas igrejas da Judéia. A não necessidade de explicação por parte de Lucas desse ofício, provavelmente se deve a obviedade do mesmo.[4]

           Pouco antes do ano 50 A.D. encontramos Paulo promovendo nas Igrejas da Galácia, a eleição de Presbíteros. Na narrativa de Lucas, isso parece algo natural no sistema eclesiástico.

          É relevante aqui o plural: “E, promovendo-lhes, em cada igreja, a eleição de presbíteros, depois de orar com jejuns, os encomendaram ao Senhor em quem haviam crido” (At 14.23). Indicando que as igrejas locais tinham mais de um presbítero.

          Em 1 Coríntios 12.28, eles aparecem sob o nome de “governos”,[5] provavelmente, referindo-se àqueles que presidem (Rm 12.8/1Ts 5.12),[6] que seguram bem o leme da igreja mantendo-a na direção certa.[7]

          Por volta do ano 62 A.D. os encontramos na igreja de Filipos juntamente com os diáconos, parecendo indicar algo comum na estrutura eclesiástica local (Fp 1.1).[8]

          Pouco mais tarde, lemos Paulo orientando Tito a promover a eleição de presbíteros, oferecendo uma configuração mais formal e conclusiva às incipientes igrejas: “Por esta causa, te deixei em Creta, para que pusesses em ordem (* e)pidiorqo/w) as coisas restantes, bem como, em cada cidade, constituísses presbíteros, conforme te prescrevi” (Tt 1.5), denotando também, a necessidade de um trabalho contínuo no estabelecimento da igreja. O presbiterato, de fato, não é lazer.[9]

          A Epístola de Tiago, escrita a diversas igrejas da Dispersão, aponta para a estrutura comum de vários presbíteros em cada igreja (Tg 1.1/5.14/1Pe 5.1-2).[10] O Novo Testamento, insistimos, nos indica que as Igrejas eram governadas por presbíteros, não apenas por um (At 14.23/Tt 1.5).

Maringá, 05 de setembro de 2021.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1]“O que eles, com efeito, fizeram, enviando-o aos presbíteros (presbu/teroj) por intermédio de Barnabé e de Saulo” (At 11.30).

[2]“Que o presbiterato cristão está enraizado no ofício israelita e judaico, está além de qualquer dúvida” (Cornelis Van Dam,  O Presbítero, São Paulo: Cultura Cristã, 2019, p. 22). “Sem querer sugerir que a igreja cristã adotou toda a estrutura organizacional da sinagoga judaica, o que definitivamente não ocorreu, ainda assim, o ofício de presbítero no Novo Testamento pode ser visto como herança da sinagoga judaica, o qual, por sua vez, está firmemente arraigado no Antigo Testamento” (Cornelis Van Dam,  O Presbítero, São Paulo: Cultura Cristã, 2019, p. 24). Veja-se também, p. 37ss.; 97-98; John Frame, Teologia Sistemática, São Paulo: Cultura Cristã, 2019, v. 2, p. 330-331.

[3]Herman Bavinck, Our Reasonable Faith,4. ed. Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1984, p. 536. Também: Herman Bavinck, Dogmática Reformada − Espírito Santo, Igreja e nova criação, São Paulo: Cultura Cristã, 2012, v. 4, p. 345.

[4] Cf. Cornelis Van Dam, O Presbítero, São Paulo: Cultura Cristã, 2019, p. 22.

[5]Vejam-se: João Calvino, Exposição de 1 Coríntios, São Paulo: Paracletos, 1996, (1Co 12.28), p. 391; Herman Bavinck, Our Reasonable Faith, p. 536-537; Simon Kistemaker, 1 Coríntios, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2004, (1Co 12.28), p. 615-616; Samuel Miller, O Presbítero Regente: Natureza, Deveres e Qualificações, São Paulo: Os Puritanos, 2001, p. 13.

[6]Cf. João Calvino, Exposição de Romanos, São Paulo: Paracletos, 1997, (Rm 12.8), p. 433-434. (Vejam-se também: Charles Hodge, Commentary on the Epistle to the Romans, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1994 (Reprinted), p. 392-393; William Hendriksen, Romanos, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2001, (Rm 12.6-8), p. 541-542; John Murray, Romanos, São José dos Campos, SP.: Editora Fiel, 2003, (Rm 12.3-8), p. 489). Em outro lugar Calvino expressa a amplitude do seu conceito sobre este assunto: “O que Paulo demonstra claramente quando inclui os que presidem entre os dons que Deus distribui diversamente aos homens e que devem ser empregados para a edificação da igreja. Conquanto na citada passagem o apóstolo fale da assembleia dos anciãos ou presbíteros que eram ordenados na Igreja Primitiva para presidir ou administrar a disciplina pública, ofício que na Epístola aos Coríntios ele chama de governos, todavia, como em nosso conceito o poder civil visa ao mesmo fim, não há nenhuma dúvida de que ele nos recomenda que lhe atribuamos toda sorte de preeminência justa” (João Calvino, As Institutas da Religião Cristã: edição especial com notas para estudo e pesquisa, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, v. 4, (IV.16), p. 149).

[7]O substantivo usado em 1Co 12.28 para “governar”, kube/rnhsij – do verbo kuberna/w (pilotar um navio, timoneiro) (Usado desde Homero e Heródoto, porém ausente no NT) – tem o sentido figurado de governar, administrar, dirigir. Este sentido já fora dado por Platão, aplicando a palavra ao “estadista” (Fedro, 247c; Eutidemo, 291c) e à arte de bem dirigir (governar, dirigir, pilotar) a “nau do Estado” (A República, 488a-b). Kubernh/thj (piloto) ocorre duas vezes no Novo Testamento (At 27.11; Ap 18.17) (LXX: Pv 23.34; Ez 27.8,27,28). O substantivo kube/rnhsij aparece três vezes na LXX: apresenta a ideia de bem conduzir a nossa inteligência na tomada de decisões (Pv 1.5); sábia direção na condução do povo (Pv 11.14) e, condução prudente na execução da guerra (Pv 24.6). O verbo kuberna/w ocorre uma única vez na LXX com o sentido de pensamento justo e reto (Pv 12.5). (Vejam-se: Hermann W. Beyer, Kube/rnhsij:In: G. Kittel; G. Friedrich, eds., Theological Dictionary of the New Testament,Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1983 (Reprinted), v. 3, p. 1035-1037; William F. Arndt; F.W. Gingrich, A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other Early Christian Literature, p. 457; L. Coenen, Bispo: In: Colin Brown, ed. ger.O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1981-1983, v. 1, p. 305; Simon Kistemaker, 1 Coríntios, (1Co 12.28), p. 615-616; John MacArthur, Comentário bíblico MacArthur: desvendando a verdade de Deus, versículo por versículo,  Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2019, (Rm 12.8), (Kindle: Página 2925 de 3835).

[8] “Paulo e Timóteo, servos de Cristo Jesus, a todos os santos em Cristo Jesus, inclusive bispos e diáconos que vivem em Filipos” (Fp 1.1).

[9]Calvino pregando em 1555 sobre Tt 1.5-6: “Esta não é uma ocupação ordinária, e não é uma diversão” João Calvino, Sermões sobre Tito,  Brasília, DF.: Monergismo,  2019, p. 60 (Edição do Kindle).

[10]Quando se refere a presbíteros usa o plural tendo como pressuposto a existência deste ofício em todas as igrejas representadas e, também, à pluralidade desses líderes que cuidavam do rebanho: “Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo, às doze tribos que se encontram na Dispersão, saudações” (Tg 1.1). “Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e estes façam oração sobre ele, ungindo-o com óleo, em nome do Senhor” (Tg 5.14). Da mesma forma Pedro: “Rogo, pois, aos presbíteros que há entre vós, eu, presbítero como eles, e testemunha dos sofrimentos de Cristo, e ainda coparticipante da glória que há de ser revelada: 2 pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós, não por constrangimento, masespontaneamente, como Deus quer; nem por sórdida ganância, mas de boa vontade” (1Pe 5.1-2).

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