A Pessoa e Obra do Espírito Santo (214)

2. O poder de Deus em nossa santificação (Continuação)

Apesar de sabermos que não podemos separar a obra da Trindade de forma arbitrária, para uma visão melhor do assunto, mostraremos biblicamente, como as três pessoas da Trindade agem de forma poderosamente eficaz em prol de nossa santificação.[1]

                    1) O Pai

                               Jesus orou ao Pai para que santificasse os seus discípulos: Santifica-os (a(gia/zw) na verdade” (Jo 17.17). Do mesmo modo, como vimos, orou Paulo: “O mesmo Deus da paz vos santifique (a(gia/zw) em tudo”(1Ts 5.23). Ambas as orações ressaltam, além da confiança, o fato de que o Deus Pai é poderoso para nos santificar, o que de fato Ele faz.

          O Pai que nos escolheu em Cristo, continua operante, nos disciplinando para que participemos de sua santidade (Hb 12.5-11),[2] propiciando todos os meios para que cresçamos em nossa fé, desenvolvendo a nossa salvação (Fp 2.13/Hb 13.20-21).[3]

Deus não somente tem um santo propósito para nós, mas, também, nos disponibiliza os recursos para tal. Um dos principais recursos dos quais devemos nos valer, é a oração. Devemos orar neste sentido, por nós mesmos, e pelo nosso próximo. A oração intercessória faz parte essencial da santificação da igreja.

          Estou convencido que um dos sustentáculos da vida ministerial é a oração dos fiéis. Sei que muitos e muitos crentes mantêm sistematicamente na pauta de suas orações seus pastores e familiares. Isto é muito encorajador para todos nós.[4] Deus tem ouvido estas orações e, a despeito do pecado sobrevivente em cada um de nós, Ele tem nos preservado em santidade.

                    2) O Filho

                                                                                                  A santidade da igreja é algo tão importante, tão vital, que o Filho além de orar ao Pai para que nos santificasse, Ele mesmo se ofereceu por nós para que a nossa santidade fosse real.

Sem a obra do Filho, a sua oração em nosso favor não teria eficácia. Sem a encarnação, quando o Filho renuncia à manifestação da glória de sua deidade, não haveria santificação. A santificação é o resultado da vinda de Jesus Cristo, sua morte e ressurreição. Por isso, nós somos santos e santificados em Cristo Jesus, aquele que foi morto e ressuscitou.[5]

 A santificação do Filho é em favor da Igreja (Jo 17.19). A oração do Filho é totalmente coerente com o seu propósito eterno, com os Seus atos na história e com a Sua prática intercessória, ainda hoje, junto ao Pai (Rm 8.34; Hb 7.25; 1Jo 2.1-2).[6]

Lloyd-Jones exulta: “Não há nada que seja mais importante do que compreendermos o fato de que o nosso Salvador é o Filho eterno de Deus, que Ele orou por nós na terra, e que neste momento Ele está intercedendo por nós à destra da glória e do poder de Deus no céu”.[7]

A Obra de Cristo é o fundamento de nossas orações e da santidade da Igreja. Cristo se entregou pelo seu povo a fim de nos santificar. A sua Palavra é o meio de aplicação da sua obra em nossa vida. “A verdadeira santidade de todos os verdadeiros cristãos é fruto da morte e ressurreição de Cristo, pela qual o dom do Espírito Santo foi adquirido. Ele ofereceu-se a si mesmo por sua Igreja para santificá-la”, exulta Henry (1662-1714).[8]

Paulo instrui aos efésios quanto ao relacionamento familiar tendo como paradigma a relação de Cristo com a sua Igreja:

Maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela, para que a santificasse, tendo-a purificado (kaqari/zw) por meio da lavagem de água pela palavra, para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula (spi/loj) (nódoas),[9] nem ruga, nem cousa semelhante, porém santa e sem defeito (a)/mwmoj) (= sem mancha).[10] (Ef 5.25-27/Tt 2.14).

          João nos fala da suficiência e eficácia da obra de Cristo em nos purificar: “Se, porém, andarmos na luz, como ele está na luz, mantemos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica (kaqari/zw) de todo pecado” (1Jo 1.7)

          A Palavra de Deus demonstra que por meio da única e suficiente oferta de Cristo, fomos santificados:

Nessa vontade é que temos sido santificados (a(gia/zw), mediante a oferta do corpo de Jesus Cristo, uma vez por todas (…). Porque com uma única oferta aperfeiçoou para sempre quantos estão sendo santificados (a(gia/zw). (Hb 10.10,14).
…. Jesus, para santificar (a(gia/zw) o povo, pelo seu próprio sangue, sofreu fora da porta. (Hb 13.12).

          Cristo se entregou a fim de que sejamos santos. Ele não se limitou a exigir isto de nós. Cristo se entregou para que este propósito fosse possível e, de fato, real.

Entre a realidade terrível de nosso pecado e um alvo, que poderia ser etéreo, Cristo se entrega por nós para que a nossa realidade seja transformada, cumprindo assim, o seu propósito de santificação em nós. Jesus Cristo tornou-se também, para nós, o exemplo perfeito de santificação, o qual devemos perseguir (Hb 12.2/1Pe 2.21; 1Jo 2.6).[11]

          A ascensão de Jesus Cristo e o regresso à sua glória foram precedidos por sua completa obra de purificação de nossos pecados. É nestes termos que está registrado em Hebreus: “Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser, sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, depois de ter feito a purificação (kaqarismo/j) dos pecados, assentou-se à direita da Majestade, nas alturas” (Hb 1.3).

          É nesta confiança e certeza de fé que nos aproximamos de Deus: “Aproximemo-nos, com sincero coração, em plena certeza de fé, tendo o coração purificado (r(anti/zw) (= aspergido)[12] de má consciência e lavado o corpo com água pura (kaqaro/j)(Hb 10.22).

          Falar da santidade da Igreja significa declarar os atos salvadores de Deus em Cristo Jesus, o qual morreu pelo seu povo, amando-o apesar dos seus pecados (Rm 5.8; 1Jo 4.10).[13]

          Por isso, Paulo, escrevendo à Igreja de Corinto, pôde dizer: “À Igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus” (1Co 1.2). Esta é a realidade de toda a Igreja de Cristo. Todos nós fomos separados para Deus por Cristo Jesus, mediante a Sua obra remidora e santificadora.

Maringá, 16 de junho de 2021.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1] Os próximos parágrafos deste capítulo foram extraídos, com ligeiras modificação, do meu livro, Efésios – O Deus Bendito, São Paulo: Cultura Cristã, 2010.

[2]5E estais esquecidos da exortação que, como a filhos, discorre convosco: Filho meu, não menosprezes a correção que vem do Senhor, nem desmaies quando por ele és reprovado; 6 porque o Senhor corrige a quem ama e açoita a todo filho a quem recebe. 7 É para disciplina que perseverais (Deus vos trata como filhos); pois que filho há que o pai não corrige? 8 Mas, se estais sem correção, de que todos se têm tornado participantes, logo, sois bastardos e não filhos. 9 Além disso, tínhamos os nossos pais segundo a carne, que nos corrigiam, e os respeitávamos; não havemos de estar em muito maior submissão ao Pai espiritual e, então, viveremos? 10 Pois eles nos corrigiam por pouco tempo, segundo melhor lhes parecia; Deus, porém, nos disciplina para aproveitamento, a fim de sermos participantes da sua santidade. 11 Toda disciplina, com efeito, no momento não parece ser motivo de alegria, mas de tristeza; ao depois, entretanto, produz fruto pacífico aos que têm sido por ela exercitados, fruto de justiça” (Hb 12.5-11).

[3]“Porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade” (Fp 2.13). 20Ora, o Deus da paz, que tornou a trazer dentre os mortos a Jesus, nosso Senhor, o grande Pastor das ovelhas, pelo sangue da eterna aliança, 21 vos aperfeiçoe em todo o bem, para cumprirdes a sua vontade, operando em vós o que é agradável diante dele, por Jesus Cristo, a quem seja a glória para todo o sempre. Amém!” (Hb 13.20-21).

[4] “Não conheço nada que me encoraje mais, em meu trabalho e em meu ministério, do que saber que há pessoas orando por mim. Eles recorrem a Deus, que é a fonte de todo poder, e Lhe pedem que me encha de poder” (D.M Lloyd-Jones, Salvos desde a Eternidade, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 2005 (Certeza Espiritual: Vol. 1), p. 20).

[5] “Eu e vocês só podemos ser santificados porque a encarnação é um fato; só podemos ser santificados porque o sofrimento e a morte, a ressurreição e a vida ressurreta do nosso Senhor foram, todos, fatos. Não devemos deixar fora nem um só passo; não somos santificados só pelo Senhor ressurreto, sua morte foi igualmente essencial, e assim o foi também a encarnação” (D.M. Lloyd-Jones, Santificados Mediante a Verdade, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, (Certeza Espiritual, v. 3), 2006, p. 47).

[6]“Quem os condenará? É Cristo Jesus quem morreu ou, antes, quem ressuscitou, o qual está à direita de Deus e também intercede por nós” (Rm 8.34). “Por isso, também pode salvar totalmente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles” (Hb 7.25). “Filhinhos meus, estas coisas vos escrevo para que não pequeis. Se, todavia, alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo; 2 e ele é a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos próprios, mas ainda pelos do mundo inteiro” (1Jo 2.1-2).

[7]D.M. Lloyd-Jones, Crescendo no Espírito, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 2006 (Certeza Espiritual: Vol. 4), p. 172.

[8]Matthew Henry, Comentário Bíblico de Matthew Henry, 5. ed. Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 2006, (Jo 17.17-19), p. 878.

[9] Este substantivo só ocorre duas vezes no NT (Ef 5.27 e 2Pe 2.13). Da mesma forma o verbo, spilo/w (Tg 3.6; Jd 23). A forma negativa é um pouco mais frequente. A)/spiloj (*1Tm 6.14; Tg 1.27; 1Pe 1.19; 2Pe 3.14.). Significa imaculado, incontaminado.

[10]A)/mwmoj, sem mancha, imaculado, sem nódoa, inocente. Essa palavra, comum no ritual judaico, era empregada para indicar os animais usados para o sacrifício; eles não podiam ter defeito (Ex 29.1; Lv 1.3,10; 3.1,6). A palavra descreve uma pureza ética; a ideia predominante é a ausência de qualquer coisa que se constituiria em corrupção diante de Deus.

[11]“Olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus, o qual, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia, e está assentado à destra do trono de Deus” (Hb 12.2). “Porquanto para isto mesmo fostes chamados, pois que também Cristo sofreu em vosso lugar, deixando-vos exemplo para seguirdes os seus passos” (1Pe 2.21). “Aquele que diz que permanece nele, esse deve também andar assim como ele andou” (1Jo 2.6).

[12] Veja-se: Sl 51.7. Na LXX a palavra é mesma usada pelo salmista no início de sua súplica.

[13] “Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores” (Rm 5.8). “Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou o seu Filho como propiciação pelos nossos pecados” (1Jo 4.10).

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