A Pessoa e Obra do Espírito Santo (20)

6.1.3.3. Harmonia no tema

Jesus Cristo é o tema central das Escrituras. “Jesus Cristo em si é a mensagem eterna da Bíblia”, escreveu Graham (1918-2018).[1] A Bíblia em toda a sua extensão é essencialmente Cristocêntrica.[2] De Gênesis a Apocalipse, a Pessoa e a Obra de Cristo estão presentes. O Antigo e o Novo Testamento estão vinculados a Cristo. No livro de Gênesis encontramos o prenúncio da sua primeira vinda. Em Gn 3.15, temos o protoevangelium – o primeiro vislumbre histórico da redenção que seria efetuada por Cristo. “Estas foram as primeiras palavras da graça a um mundo perdido”, pontua Law (1797-1884).[3]

            No Apocalipse, antevemos a vitória final do Cordeiro de Deus. Os dois Testamentos, o Antigo e o Novo, “formam uma unidade orgânica, que se completam mutuamente num harmonioso testemunho de Cristo”, comenta Packer (1926-2020).[4]

            Filipe, quando encontrou Natanael, disse-lhe o seguinte a respeito de Jesus: “Achamos aquele de quem Moisés escreveu na lei, e a quem se referiam os profetas, Jesus, o Nazareno, filho de José” (Jo 1.45).

            O próprio Senhor Jesus Cristo ensinou esta verdade, dizendo que Moisés escreveu a seu respeito (Jo 5.45,46). Jesus afirma que as profecias de Isaías se cumpriram nele (Lc 4.16-21/Is 61.1,2) e, após a sua morte e ressurreição, ele mesmo fez um resumo da mensagem que pregara durante o seu ministério, assim falando aos seus discípulos: “… São estas as palavras que eu vos falei, estando ainda convosco, que importava que se cumprisse tudo o que de mim está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos”(Lc 24.44. Leia também os versículos 45 e 46).

            Pedro, juntamente com os demais discípulos, pôde entender esta mensagem. Mais tarde, no seu discurso, Pedro fala ao povo mostrando que mais de mil anos antes, Davi já escrevera a respeito de Jesus Cristo (At 2.25-28/Sl 16.8-11. Leia também: 1Co 15.3,4).

            A constatação de Jesus Cristo, procede do fato de que toda a Escritura aponta para Ele. “Examinais as Escrituras porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim” (Jo 5.39).

            Pink (1886-1952) Conclui:

As Escrituras testificam acerca de Cristo como o único Salvador dos pecadores que perecem, como único Mediador entre Deus e os homens, como o único por intermédio de quem nos podemos aproximar de Deus Pai. Elas testificam, igualmente, acerca das admiráveis perfeições de Sua pessoa, das glórias variegadas de Seus ofícios, da suficiência de Sua obra terminada. À parte das Escrituras, Cristo não pode ser conhecido. Somente por meio delas é que Ele é revelado.[5]

            “Jesus Cristo é o cumprimento de todas as profecias e promessas do Velho Testamento”, afirma Lloyd-Jones (1899-1981).[6] De passagem, devemos dizer que o fato mais importante concernente à adoração no Novo Testamento é a centralidade de Jesus Cristo,[7] aquele que é o cumprimento das promessas e profecias do Antigo Testamento, sendo o Senhor, o único e definitivo Mediador da Aliança selada entre Deus e o seu Povo. A visão desta Aliança é a chave que abre as portas para a compreensão de toda teologia bíblica. A Pessoa de Cristo é o elo que une os dois Testamentos.[8] Em suma, Jesus Cristo é o fundamento da verdadeira adoração a Deus.

            O Cristianismo de forma singular tem o seu fundamento não em uma doutrina ou em um ensinamento ou em um código de conduta, mas, em uma pessoa, Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem.[9] A encarnação é toda e inclusivamente missionária: o Verbo fez-se carne e habitou entre nós (Jo 1.14).

            Bavinck (1854-1921) corretamente destaca a singularidade de Cristo para o Cristianismo:

Ele ocupa um lugar completamente único no Cristianismo. Ele não foi o fundador do Cristianismo em um sentido usual, ele é o Cristo, o que foi enviado pelo Pai e que fundou Seu reino sobre a terra e agora expande-o até o fim dos tempos. Cristo é o próprio Cristianismo. Ele não está fora, Ele está dentro do Cristianismo. Sem Seu nome, pessoa e obra, não há Cristianismo. Em outras palavras, Cristo não é aquele que aponta o caminho para o Cristianismo, Ele mesmo é o caminho.[10]

            Jesus Cristo é o tema que perpassa toda a Escritura.[11] Ele é apresentado como aquele que viria, aquele que veio e aquele que retornará (At 1.11). “Há um Salvador que deve vir. Há um Salvador que já veio. Há um Senhor onipotente que virá de novo. E este vasto tema há produzido surpreendente e admirável unidade na diversidade da revelação nas páginas das Sagradas Escrituras”, exulta Pink (1886-1952).[12]

            Assim, toda pregação que se diga cristã, mas que não toma a Cristo como o centro da sua mensagem, não expressa o verdadeiro ensinamento do Evangelho; portanto, deve ser rejeitada.[13]

            Calvino resume:

Ninguém jamais aprenderá o que Cristo é, ou o propósito de suas ações e sofrimentos, salvo pela orientação e ensino das Escrituras. Até onde, pois, cada um de nós deseja progredir no conhecimento de Cristo, teremos que meditar bastante e continuamente sobre a Escritura.[14]

Maringá, 14 de outubro de 2020.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1] Billy Graham, Em Paz com Deus,Rio de Janeiro: Record, © 1984, p. 29.

[2] Veja-se: John Stott, Tu, Porém, A Mensagem de 2 Timóteo, São Paulo: ABU. (Coleção A Bíblia Fala Hoje), 1982, p. 98.

[3]Henry Law, O Evangelho em Gênesis,São Paulo: Editora Leitor Cristão, 1969, p. 33.

[4]J.I. Packer, Revelação e Inspiração: In: F. Davidson, ed. O Novo Comentário da Bíblia,2. ed. São Paulo: Vida Nova, 1976, p. 30. Em outro lugar, Packer escreve: “Da mesma forma que o Antigo Testamento, sem o evangelho cristão é um alicerce sem o edifício, assim também o evangelho cristão sem o Antigo Testamento é um edifício sem alicerce” (J.I. Packer, Vocábulos de Deus,São Paulo: Vida Nova, 1994, p. 29).

[5] A.W. Pink, Enriquecendo-se com a Bíblia,p. 28-29. “A Escritura está literalmente centrada em Cristo e Cristo está nela envolvido. Só por meio da Escritura Ele pode ser conhecido. Quando interpretada corretamente, a Escritura conduz a Cristo, que, só por intermédio da Escritura pode ser apropriadamente conhecido” (Alister E. McGrath, Paixão pela Verdade: a coerência intelectual do Evangelicalismo, São Paulo: Shedd Publicações, 2007, p. 46).

[6] D.M. Lloyd-Jones, Deus o Pai, Deus o Filho,São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1997 (Grandes Doutrinas Bíblicas, v. 1), p. 317.

[7] Cf. John M. Frame, Worship in Spirit and Truth, Phillipsburg, NJ.: P & R. Publishing, 1996, p. 25ss.

[8]Ver: Confissão de Westminster, VII.6. “Portanto, seja este um sólido axioma: Não se deve ter outra Palavra de Deus, a que se dê lugar na Igreja, senão aquela que se contém, primeiro na Lei e nos Profetas, então nos Escritos Apostólicos; nem outro modo de ensinar a Igreja corretamente, senão aquele prescrito e normativo dessa Palavra” (João Calvino, As Institutas (2006), IV.8.8).

[9] Veja-se: Alister E. McGrath, Paixão pela Verdade: a coerência intelectual do Evangelicalismo, São Paulo: Shedd Publicações, 2007, p. 23, 32-33. “O conteúdo do Evangelho é Jesus mesmo, não um credo ou uma doutrina ou teoria acerca Dele” (Alan Richardson, Así se hicieron los Credos: Una breve introducción a la historia de la Doctrina Cristiana, Barcelona: Editorial CLIE, 1999, p. 17).

[10]Herman Bavinck, Teologia Sistemática, Santa Bárbara d’Oeste, SP.: SOCEP., 2001, p. 311.

[11]“Jesus Cristo crucificado é o tema que unifica toda a Escritura” (Steven J. Lawson, O tipo de pregação que Deus abençoa, São José dos Campos, SP.: Editora Fiel, 2013, p. 28).

[12] W.A. Criswell, A Bíblia para o Mundo de Hoje,Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 1968, p. 32.

[13]“Todo e qualquer movimento ou ensino que não faça do Senhor Jesus Cristo e Sua morte na cruz, e Sua gloriosa ressurreição, uma necessidade absoluta e absolutamente central, não é cristão, e sim, uma manifestação das ‘astutas ciladas do diabo’.” (D. Martyn Lloyd-Jones,O Combate Cristão, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1991, p. 128). “Cristo é tanto o centro como a circunferência, Ele é tudo, tudo se cumpre nele” (D. Martyn Lloyd-Jones, As Insondáveis Riquezas de Cristo, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas,1992, p. 70).

[14]João Calvino, O Evangelho segundo João, São José dos Campos, SP.: Editora Fiel, 2015, v. 1, (Jo 2.17), p. 100.

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