A Pessoa e Obra do Espírito Santo (174)

6.3.5. Arrependimento para a vida

Temo que os cristãos evangélicos, exagerando a graça, às vezes fazem pouco do pecado por causa disso. Não existe suficiente tristeza por causa do pecado entre nós. Deveríamos experimentar mais “tristeza segundo Deus” no arrependimento cristão. – John Stott.[1]

O arrependimento acontece no primeiro dia de nossa vida cristã, e todos os dias após isso. – Stuart Olyott.[2]

                                                           Não existe genuíno arrependimento sem fé. Ambas as operações do Espírito Santo ocorrem simultaneamente em nós. São dois aspectos complementares da mesma realidade: tristeza pelo pecado, abandono do pecado e um caminhar com fé em direção a Cristo.[3]

          Podemos tomar a definição sintética de arrependimento proposta por Grudem como satisfatória: “Arrependimento é uma sincera tristeza por causa do pecado, é renunciá-lo e comprometer-se sinceramente a abandoná-lo, e prosseguir obedecendo a Cristo”.[4]

Nova visão a respeito de Deus

          A primeira evidência de nosso arrependimento é uma nova visão a respeito de Deus e de seu caráter. Pelo arrependimento podemos constatar, com vergonha e tristeza, que a essência de todo pecado é que ele é contra Deus. Ou seja: Antes de o pecado ser contra o nosso próximo, é uma grave ofensa a Deus. Somente pelo arrependimento poderemos perceber a santa majestade de Deus.[5]

          Ainda que muitos de nossos atos sejam justificados cultural e socialmente, se não forem condizentes com a Palavra, serão atos maus diante de Deus.      Por isso,  Davi, no alto de seu prestígio e poder, arrependido, teve que confessar a Deus o seu pecado que culminou com seu adultério com Bate-Seba e a morte de Urias (2Sm 11): “Pequei contra ti, contra ti somente, e fiz o que é mal ([r;) (ra`) perante os teus olhos, de maneira que serás tido por justo no teu falar e puro no teu julgar” (Sl 51.4).

          O terrível é que muitas vezes usamos dos recursos que Deus nos dá justamente para ofendê-lo, blasfemando o seu nome. Esta é a acusação feita por Deus a Israel: “Adestrei e fortaleci os seus braços; no entanto, maquinam ([r;) (ra`) contra mim” (Os 7.15).

          Como Deus não é indiferente ao pecado, ao povo rebelde, ordena: “Lavai-vos, purificai-vos, tirai a maldade ([;ro)(roa`)de vossos atos de diante dos meus olhos; cessai de fazer o mal ([[;r’) (ra`a`)(Is 1.16).

Outro aspecto que quero destacar é que a consciência da gravidade do pecado aumenta se considerarmos corretamente a santidade absoluta de Deus, o ofendido.[6] A partir desta relação restabelecida com Deus é que começamos a enxergar a realidade – incluindo a nós mesmos em nossa pecaminosidade –, de forma diferente. Isto fará mudar a nossa forma de pensar e agir.

Mais próximos de Deus e em correta relação com Ele, começamos a perceber a terrível descrição que as Escrituras fazem da realidade e, por conseguinte, daquilo que somos.

Maringá, 02 de maio de 2021.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1] John R.W. Stott, A Mensagem do Sermão do Monte, 3. ed. São Paulo: ABU., 1985, p. 31.

[2]Stuart Olyott, Jonas – O Missionário bem sucedido que fracassou, São José dos Campos, SP.: Fiel, 2012, p. 45

[3] Veja-se:  John Frame, Teologia Sistemática,  São Paulo: Cultura Cristã, 2019, v. 2, p. 310-311.

[4]Wayne A. Grudem, Teologia Sistemática,São Paulo: Vida Nova, 1999, p. 596. Uma definição mais detalhada, temos em Erickson: “O arrependimento é a tristeza verdadeira de uma pessoa pelos seus pecados acompanhada da resolução de se afastar deles. Há outras formas de uma pessoa sentir pesar pelos seus erros, cujas motivações são diferentes. Se pecamos e as consequências são desagradáveis, pode ser que sintamos remorso pelo que fizemos, mas isso não é verdadeiro arrependimento. É mera penitência. O verdadeiro arrependimento é a tristeza da pessoa pelo que seu pecado fez contra Deus e pelo mal a ele infligido. Essa tristeza é acompanhada de um desejo genuíno de abandonar o pecado. Há pesar pelo pecado, mesmo que o pecador não tenha sofrido qualquer consequência pessoal por causa dele” (Millard J. Erickson, Teologia Sistemática, São Paulo: Vida Nova, 2015, p. 908).

[5] Veja-se: D. Martyn Lloyd-Jones,  Deus o Espírito Santo, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1998, p. 175.

[6] “A seriedade do insulto aumenta com a dignidade daquele que é insultado” (John Piper, A Paixão de Cristo, São Paulo: Mundo Cristão, 2006, p. 22). “A santidade é, sem dúvida, o mais importante de todos os atributos de Deus” (John MacArthur, Deus: Face a face com sua majestade, São José dos Campos, SP.: Fiel, 2013, p. 47).

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