A Pessoa e Obra do Espírito Santo (167)

6.4.2. O convencimento do Espírito

O verdadeiro cristianismo começa com a obra do Espírito Santo no coração de uma pessoa. – Vern S. Poythress.[1]

                                                           Jesus Cristo, na rota preparatória antes da cruz, instrui os seus discípulos:

Mas eu vos digo a verdade: convém-vos que eu vá, porque, se eu não for, o Consolador não virá para vós outros; se, porém, eu for, eu vo-lo enviarei. Quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo: do pecado, porque não creem em mim; da justiça, porque vou para o Pai, e não me vereis mais; do juízo, porque o príncipe deste mundo já está julgado. (Jo 16.7-11).

          É o Espírito Quem “atualiza a ação salvífica de Cristo[2] em nós. Ele nos convence a respeito de nossos pecados (2Tm 3.16; 4.2; Tt 1.9). Não são argumentos humanos, convincentes ou não, que persuadem o homem, mas sim, o Espírito, que agindo em nós nos dá consciência de nossos pecados, fazendo-nos pela graça voltar arrependidos para Cristo.

          O Espírito também convence o homem da justiça de Cristo. Aquele que foi injustiçado pelos homens, seria, como de fato foi, feito justiça de Deus (At 2.22,23,33; 3.14; 7.52; 2Co 5.21; 1Pe 3.18; 1Jo 2.1), condenando assim, a Satanás e a todos os algozes de Cristo e, também, àqueles que rejeitam definitivamente o testemunho do Espírito (Jo 12.31; Cl 2.15).

          A ação do Espírito tem um duplo efeito: Convence os homens de seus pecados, conduzindo-os ao arrependimento a fim de que sejam salvos pela justiça de Cristo (1Co 1.30)[3] e, também, há no texto de Jo 16.8 a ideia de que Ele mostrará aos homens, para a sua própria condenação, que eles estavam errados em relação à Pessoa e obra de Cristo.

Aqui podemos falar do “ofício judicial do Espírito”.[4] O Espírito mostrará como a justiça perfeita de Cristo é-nos oferecida no Evangelho (Rm 1.17; 9.30). Esta ação do Espírito redundará na salvação de uns e na condenação de outros. Contudo, isso aponta para o futuro. Portanto, hoje é o tempo propício para anunciar o Evangelho aos homens a fim de que, alcançados pela graça, se rendam pela fé à justiça de Cristo.

          Hendriksen (1900-1982) comenta que, “O resultado desta operação do Espírito não é indicado aqui. Em At 2.22-41; 7.51-57; 9.1-6; 1Co 14.24; 2Co 2.15,16; Tt 1.13, aprendemos quem em alguns casos o resultado será a conversão; em outros, endurecimento e castigo eterno”.[5]

Portanto, a ação do Espírito no mundo é diferente da que Ele realiza na Igreja. Ele vive na Igreja e age no mundo convencendo-o do pecado, da justiça e do juízo, condenando-o então nesses pontos (Jo 16.8-11).[6]

                              6.4.3. Regeneração e vida

                                                            A Palavra de Deus nos diz que os filhos de Deus são gerados outra vez, são nascidos do Espírito Santo. O Espírito é vida, sendo a fonte e o doador da vida: “Porque a lei do Espírito da vida, em Cristo Jesus, te livrou da lei do pecado e da morte” (Rm 8.2/Jo 6.63; 2Co 3.6; Gl 6.8).

          Por intermédio do Espírito fomos recriados para que possamos responder com fé à Palavra reivindicatória de Deus (Jo 3.5,6,8/Tt 3.5).

A regeneração antecede à fé: Antes, estávamos mortos, portanto, incapazes de atender as reivindicações de Cristo e de ver o glorioso Reino de Deus. É o Espírito quem nos capacita a receber a graça,[7] iniciando uma nova vida em nossos corações, na qual temos os nossos olhos abertos e os corações voltados para a Palavra de Deus.

Antes amávamos o pecado, agora, agrada-nos fazer a vontade de Deus (Sl 119.16,77,97-105/1Jo 5.1-5). O Espírito infunde em nós uma nova disposição que nos conduz em direção à vontade de Deus em uma santa e prazerosa obediência.[8]

          Jesus Cristo ensina: “Em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus (…). Quem não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus” (Jo3.3-5).

          Do mesmo modo, Paulo:

Segundo sua misericórdia, Ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo, que ele derramou sobre nós ricamente, por meio de Jesus Cristo nosso Salvador, a fim de que, justificados por graça, nos tornemos seus herdeiros, segundo a esperança da vida eterna. (Tt3.5-7).

          Resumindo: os filhos de Deus procedem de Deus: são gerados por Ele mesmo e, por isso, tornam a Deus com fé(Jo1.12-13).

          Os Cânones de Dort (1618-1619) declaram:

De acordo com o testemunho da Escritura, inspirada pelo próprio autor dessa obra, regeneração não é inferior em poder à criação ou à ressurreição dos mortos. Consequentemente todos aqueles em cujos corações Deus opera desta maneira maravilhosa são, certamente, infalível e efetivamente regenerados e de fato passam a crer. Portanto a vontade que é renovada não apenas é acionada e movida por Deus mas, sob a ação de Deus, torna-se ela mesma atuante.[9]

Assim também a graça divina da regeneração não age sobre os homens como se fossem máquinas ou robôs, e não destrói a vontade e as suas propriedades, ou a coage violentamente. Mas a graça a faz reviver espiritualmente, traz-lhe a cura, corrige-a e a dobra de forma agradável e ao mesmo tempo poderosa. Como resultado, onde dominava rebelião e resistência da carne, agora, pelo Espírito, começa a prevalecer uma pronta e sincera obediência. Esta é a verdadeira renovação espiritual e liberdade da vontade.[10]

          Tratarei mais sobre a regeneração em consonância com a santificação.

Maringá, 22 de abril de 2021. Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1] Vern S. Poythress, Redimindo a filosofia: uma abordagem teocêntrica às grandes questões, Brasília, DF.: Monergismo, 2019, p. 31.

[2] Devo esta expressão a Semmelroth. Veja-se: O. Semmelroth, Espírito Santo: In: H. Fries, dir. Dicionário de Teologia, 2. ed. São Paulo: Loyola, 1983, v. 2, p. 101.

[3] Não é demais lembrar que “A graça de Deus vem a nós não porque Deus revela o fato da Sua lei ser quebrada por nós, mas porque a Sua lei foi plenamente satisfeita pelos atos de justiça que Cristo fez a nosso favor (…). Ele cumpriu perfeitamente a lei de Deus” (A. Booth, Somente pela Graça,p. 56-57. Veja-se: também, Ibidem.,p. 15 e 31).

[4] H.M.F. Büchsel, E)le/gxw: In: G. Friedrich; G. Kittel, eds. Theological Dictionary of the New Testament, Grand Rapids, Michigan:  Eerdmans, 1982, v. 2, p. 474.

[5] William Hendriksen, O Evangelho de João,São Paulo: Cultura Cristã, 2004, (Jo 16.8), p. 723.

[6] Veja-se: Herman Bavinck, Our Reasonable Faith,p. 389.

[7] Confissão de Westminster,X.2.

[8] “A regeneração consiste na implantação do princípio da nova vida espiritual no homem, numa radical mudança da disposição dominante da alma, que, sob a influência do Espírito Santo, dá nascimento a uma vida que se move em direção a Deus” (L. Berkhof, Teologia Sistemática,  Campinas, SP.: Luz para o Caminho, 1990, p. 470).

[9] Os Cânones de Dort,São Paulo: Editora Cultura Cristã, (s.d.), III-IV.12, p. 37-38.

[10] Os Cânones de Dort,III-IV.16, p. 39.

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